Começo a pensar que me submeti a grandes tensões causadas por mim própria sem necessidade e acabei sentada num assento de um carro numa longa viagem sem destino, sentindo-me agora fútil porém viva; eu vou pedindo para que a viagem chegue ao fim e possa sair daquele carro para aproveitar aquele que pode ser o meu último dia; mas o tempo joga contra mim e o motor do carro tende a me contrariar, o cheiro a gasolina percorre todos os milímetros do carro e invade o meu nariz mas nem assim apaga o rasto do perfume que ele deixou em mim e que implora agora para ficar; o conta-kilometros vai batendo em oco, e eu sinto e sei que a viagem só pode ter um fim, eu sei que o carro só vai parar quando for travado, e eu sei que esta é a minha última viagem no passado a decorrer num duro presente, o futuro trata-se de segundos... E de repente, o futuro trata-se de nada; passaram os segundos e o carro voou , a minha cabeça quis ficar e o meu corpo quis ir acabando por se despedaçar como uma folha de papel cortada em pequenos papeizinhos, numa mistura de traços encarnados e redes de bocados de mim.
E eu sabia, todas as viagens tem um fim e todas as vidas acabam assim.